Conhecendo o adversário: os obstáculos que o praticante de Yoga pode enfrentar em sua jornada
- Paola Alarcon
- 30 de nov. de 2022
- 3 min de leitura

Uma das mais populares definições para o Yoga, segundo os Sutras de Patanjali, se dá no segundo sutra do capítulo primeiro:
“Yogaś-citta-vṛtti-nirodhaḥ”
Na tradução, o Yoga é a sublimação (nirodhah) dos movimentos ou funcionamentos (vṛtti) da mente (citta). Dentro dos vrittis, dessas oscilações mentais, temos as principais:
Pramāṇa - a percepção correta - a constatação das coisas como elas são
Viparyaya - a percepção erronêa - suposições irreais
Vikalpa - imaginação - quando fantasiamos e fazemos projeções futuras
Nidrā - estado de sono, também reconhecido com uma forma de funcionamento da nossa mente
Smṛti - memória - a reprodução daquilo que já passou, visita ao passado
Ao adentrar na prática constante desse entendimento e percepção do funcionamento da mente, o praticante ainda pode se deparar com algumas distrações que atrapalham sua prática, são elas:
Vyādhi - enfermidade que perturba o equilibrio físico
Styāna - languidez, apatia
Saṃśaya - dúvida ou indecisão
Pramāda - indiferença ou insensibilidade
Alasya - preguiça
Avirati - sensualidade, o desejo pelos objetos sensoriais
Bhrānti darśana - ilusão
Alabdha bhūmikatva - incapacidade de continuidade de concentração
Anavasthitattva - instabilidade na manutenção da concentração após longa prática
A partir do primeiro obstáculo - a falta de saúde - notamos a grande importância que o corpo, veículo e instrumento essencial na prática do Yoga, desempenha durante a jornada do aspirante. A saúde física é importante para o desenvolvimento e investigação mental, já que normalmente a mente funciona através do sistema nervoso e uma vez que esse sistema é afetado, a mente fica mais arredia ou entorpecida, o que faz com que a concentração e meditação sejam comprometidas.
Em relação a apatia, vale a metáfora "o fluxo constante de água mantém puro os riachos das montanhas, mas nada de bom pode florescer na água estagnada de uma vala." Assim é uma pessoa apática, aquela que carece de objetivos e não encontra entusiasmo para seguir o caminho, sua mente e intelecto ficam entorpecidos.
Já quem duvida, abala a fé em si mesmo e no seu mestre. O insensato, o incrédulo e o cético, destroem a si mesmos. Quando a fé brota da alma, ela afasta a luxúria, a má vontade, o orgulho... fazendo com que o coração, livre dessas impurezas, possa alcançar um estado sereno e inabalável.
E o que podemos falar sobre indiferença? É uma pessoa presunçosa, que carece de humildade. Ela sabe o que é certo e o que é errado, mas persiste em sua indiferença quanto ao que é certo e escolhe o que é agradável.
Já o combate à preguiça é entendido com a observação no seu contra ponto, um entusiasmo inabalável (virya). A esperança deve ser seu escudo e a coragem sua espada. Livre de ódio e mágoa, cultiva a fé e o entusiasmo na superação da inércia do corpo.
A sensualidade é refém dos sentidos. É preciso um domínio sobre os sentidos, do contrário, cria-se um anseio muito dificil de conter. Isso é trabalhado pela prática de pratyahara - o direcionamento dos sentidos de percepção externa para nosso interno. Assim ocorre a emancipação do desejo.
A ilusão também carece de humildade, e surge na pessoa que acredita que só ela enxergou a Verdade. Trata-se de alguém com o intelecto desenvolvido mas sem a sabedoria de alinhar conhecimento à Verdade do amor.
Como um corredor que não consegue completar a prova até a linha de chegada, a pessoa que não dá continuidade em sua concentração, fica incapacitada de buscar a Realidade. Ela pode ter percepções fulgazes sobre a Realidade, mas não poderá ve-la claramente. É como um artista que vê a imagem de uma belíssima obra em seus sonhos, mas não consegue reproduzi-la ao acordar. Falta a capacidade de colocar em prática aquilo que se conhece.
E por ultimo, fala-se da pessoa que ao obter o vislumbre da Realidade, cria orgulho por sua conquista e torna-se negligente em sua prática (sadhana). Há pureza e poder de concentração, mas deve-se manter o esforço contínuo que lhe é demandado no inicio da jornada, com paciência e determinação, sem diminuir seu ritmo dado o longo caminho percorrido. Aqui, o praticante deve compreender que ainda há estrada para que o Ser Universal revele Sua verdadeira essência - pois esse não ser alcançado pela aprendizagem, pelo intelecto, e sim por meio de um enorme anseio pela Verdade.
Para superação de tais obstáculos, Patanjali propõe a fórmula: Maitri (sentimento de unidade) + Karuṇā (compaixão associada à ação dedicada no alivio do sofrimento) + Mudita (apreciação das boas qualidades e feitos de todos os seres - inclusive nas inimizades) e Upkesā (a curiosidade e estudo da falha dos outros em um olhar primeiro para si mesmo). Haja caminhada, prática e muita entrega, meus caros.
Texto adaptado do livro Luz sobre o Yoga - B.K.S. Iyengar

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