Intuição e Pratyahara
- Paola Alarcon
- 29 de mar. de 2023
- 3 min de leitura
uma visão da Psicologia Jungiana com o Yoga

A partir da teoria da personalidade de Jung, há quatro funções psíquicas básicas:
pensamento, sentimento, sensação e intuição.
Pensamento e sensação se baseiam principalmente em dados vindos do mundo
exterior e apreendidos através dos sentidos. A intuição e o sentimento têm origem dentro do indivíduo e não são totalmente condicionadas pelo meio sociocultural da época.
A faculdade do pensamento funciona através da classificação sistemática e da discriminação dos fatos que são então arrumados em certos padrões. A faculdade da intuição proporciona ao indivíduo uma penetração imediata no funcionamento do sistema global do que está sendo analisado. A intuição é basicamente o poder de percepção direta e o conhecimento imediato, um poder que contorna, transcende ou penetra através do funcionalismo mais lento do intelecto limitado pela lógica.
A ciência moderna esqueceu completamente a função intuitiva que há no ser humano, talvez pressupondo que a intuição seja apenas um pensamento prejudicialmente colorido por sentimentos pessoais. No entanto, a função intuitiva está estreitamente relacionada com a função estética, pois a perfeição do conhecimento, vista na grande arte, nasce de uma percepção intuitiva da ordem e da harmonia e de um conhecimento interior que é atingido quando transcende o pensamento racional. A função intuitiva opera através do inconsciente.
Segundo a etimologia do termo, intuição vem da palavra latina intuitus: "in"- em, dentro, e "tuitus", particípio passado de "tueri" - olhar, ou seja, "olhar dentro". Visão voltada para dentro de si ou ainda olhar a partir de dentro de si.
E agora eu faço a ponte com o Yoga.
No caminho de 8 passos para se atingir o estado de yoga, descrito por patanjali, o quinto passo é pratyahara - e assim como o quinto chakra (elemento éter) que faz a ponte com os 4 elementos (terra, fogo, ar e água) e o invisível, pratyahara é vital para a compreensão da conexão corpo e mente: do asana à meditação - caminho mediado pela respiração e pelos sentidos de percepção.
Normalmente se traduz pratyahara como controle dos sentidos, mas não é apenas isso. O termo está formado por duas palavras sânscritas: prati e ahara. Ahara significa comida, ou algo que você coloca para dentro. Prati é uma preposição que significa contra ou fora. Pratyahara então media a forma como consumimos ahara. existem basicamente 3 tipos de ahara:
- A comida: o alimento do corpo
- Impressões e sensações pelos 5 órgãos do sentido: alimento da mente
- Os relacionamentos: alimentos da alma
É impossível controlar as impressões mentais e os conteúdos do pensamento sem ter uma dieta correta e relacionamentos construtivos.
A importância do pratyahara está no controle das impressões sensoriais, que permite que a mente se volte para o interior. Ao recolher a consciência das impressões externas, o pratyahara nos fortalece, da mesma forma que um corpo saudável rejeita toxinas e agentes patógenos. e permite também com que exercitemos a intuição. Essa capacidade de perceber o campo de informação sem interferêrencia lógica.
O próximo passo depois de pratyahara é dharana. a fixação da mente em um objeto específico de concentração + recolhimento dos sentidos, e depois dhyana - a fusão com o objeto - esse perceber intuitivo da natureza íntima de algo, o que tende a resultar em samadhi - libertação.
A prática de dharana + dhyana + samadhi é chamada de samyama. E é o que vai dando corpo para desenvolver os siddhis - os ditos ˜super poderes" que o yogi vai adquirindo ao longo do caminho. porém, nesse entendimento do funcionamento da relação corpo-mente, fica claro como desenvolver a faculdade de intuição, no caminho de samyama, direcionando a percepção, nos faz acessar praticamente o que quisermos dentro do campo de informação (akasha).
"Aplicando samyama ao sol, obtem-se o conhecimento do sistema solar." Yoga-sutra III.27
Esse conteúdo teve como base o pensamento de C.G. Jung, o Yoga-Sutras de Patanjali e um texto do professor Pedro Kupfer sobre Pratyahara. Namastê!

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