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Kali e a pulsão de morte


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Que momento louco do mundo. Polarização máxima, incerteza, medo, dúvida. Muita aparência, pouca resistência. Desconstrução total.


Kaliyuga tem me atravessado como um trator. Me percebo na força destrutiva muitas vezes em desespero pra encontrar nova forma. Um lugar de verdade, Satya.


A destruição da Era de Kali, que não mede esforços e busca combater o mal pela raiz, garantindo que o velho demônio do conservadorismo não venha assombrar, também não nos deixa resquício de alicerce.


Vivemos um momento onde parece não haver pista de que caminho seguir.


Morte por doenças.
Morte das florestas.
Morte dos rituais e símbolos.
Morte do pulsar.
Anestesiados: pulsão de morte.


Kali usa um colar de crânios, saia de braços. Em uma mão carrega a espada que decepou a cabeça do demônio. Na outra, tem a cabeça decepada com sangue escorrendo e ainda segura um pratinho pra conter esse jorro (que não deve parar tão cedo). Chupa o sangue que brota - que é pra não nascer outra cabeça dali. Enfrenta um demônio até então tido como invencível. Kali atravessa todos limites. Ela é a senhora do tempo (kala), implacável como a morte.


E tenho observado essa força dentro de mim. Abafada. Contida. Porque ela me bota medo mesmo. Confesso, ainda me olho no espelho e reflito sobre as muitas camadas que sustentam uma suposta pessoa que acredito ser.


Assim é mais fácil. É onde eu conheço o caminho. A desconstrução mais difícil vem do desmoronamento daquilo que batemos no peito e temos orgulho de afirmar ser - ego identificado.


Me entendo em um lugar de transitoriedade.

E a sociedade cobra uma consistência.


Um sucesso. Uma estática coerência.


Se não, é loucura. Quebrou a normativa? Violência.

Não à toa, recentemente veio à tona a conversa sobre ditadura.

E é você quem dita a cura.

Sou eu responsável pelas minhas dores, minha vida, meus amores... sou eu quem escolho, o tempo todo, a forma como manifesto ser.


Chega de amortecer.


Vulnerabilidade, arte, questionamento… indo pelo ralo na sociedade do cansaço.

Mas com Kali não tem vez essa sustentação. Não.


Se a alma não tem vida, pulsa o que então?


Dançando a destruição, Kali enfurecida só lembra que precisa parar quando pisa em cima de Shiva e recorda do primeiro sutra:


1.1. Atha yogānuśāsanam

Agora, o ensinamento do Yoga.

 
 
 

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​© 2024 por Paola Alarcon.

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