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O Corpo e Seus Símbolos: a psique manifestada no corpo

Artigo inspirado no livro "O Corpo e seus símbolos" - Jean-Yves Leloup


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Jean-Yves Leloup é teólogo, filósofo e terapeuta transpessoal. Amplamente conhecido por suas obras que exploram a espiritualidade, a filosofia e a psicologia, interliga esses campos para oferecer uma visão integral do ser humano. Em seu livro "O Corpo e Seus Símbolos", Leloup nos guia através de uma profunda exploração do corpo humano, revelando como cada parte do corpo carrega significados simbólicos que refletem nossa psique e espiritualidade.


A linguagem simbólica é uma forma de comunicação que utiliza do campo das imagens, metáforas, analogias.... para expressar ideias, emoções e estados de espírito que muitas vezes não podem ser plenamente articulados através da linguagem verbal comum. No campo da psicossomática, essa linguagem é crucial, pois o corpo muitas vezes manifesta os conflitos e as emoções da psique através de sintomas físicos.


Carl Jung, acreditava profundamente na conexão entre o corpo e a psique. Em suas palavras: "O corpo é a expressão viva da alma, e assim, por meio dele, a alma se revela."(Memórias, Sonhos, Reflexões)

Yves Leloup, através de "O Corpo e Seus Símbolos", nos convida a redescobrir o corpo humano como um mapa rico de significados. Cada parte do corpo, com seus próprios símbolos, contribui para a nossa compreensão mais profunda. Esse conhecimento nos permite não apenas conhecer melhor nossa fisicalidade, mas também explorar as dimensões mais sutis do nosso ser.


Além de explorar os símbolos associados a cada parte do corpo, Yves Leloup também aborda os diferentes tipos de anamnese, que são essenciais para a compreensão do indivíduo em sua totalidade. A anamnese não é apenas uma coleta de dados médicos, mas uma investigação profunda que considera os aspectos físicos, emocionais, mentais e espirituais do ser humano. Ele explica que:


A palavra anamnese, vem deriva da palavra grega anamnésis, e significa recordação, lembrança. Platão já dizia que nada aprendemos e que apenas nos lembramos. Existe em nós uma memória essencial, a memória do ser verdadeiro que somos. Dessa maneira, denomino anamnese essencial à arte e à prática de lembrar-se do Ser, através das memórias do corpo físico e das marcas psicológicas deixadas neste corpo físico. Porque o corpo humano se recorda de todos os momentos que atravessou e viveu. (O Corpo e seus símbolos)

Como exemplo de análise profunda, observemos os nossos pés e alguns questionamentos que ele traz:


Como estamos sobre os nossos pés? Os pés são locais de problemas? Recebemos ferimentos nesta parte do corpo? Em qual momento, em qual circunstância? E que marcas físicas, que fragilidades, estes ferimentos deixaram em nosso corpo? Como é nossa relação com o odor e as peculiaridades físicas de nossos pés? Interrogamos nossas raízes. Questionamos sobre o desejo que nos chamou à existência.


Será que fomos desejados ou será que não fomos desejados? Se fomos desejados por nossos pais, quais foram as suas expectativas a nosso respeito? Igualmente, qual é o nosso desejo em relação a um filho? Por que queremos colocar filhos no mundo? Por que não queremos colocá-los? Como é que eu me sinto, carregado pela terra? Sinto-me desejado, amado pela vida? - são alguns exemplos de perguntas que fazemos para investigar essa relação do ponto de vista simbólico e profundo.


Ainda nessa linha de abordar o corpo através da anamnese física, psicológica ou espiritual, o autor dá o exemplo de como algumas doenças podem sim, ser solucionadas ou ter origem a partir de condições físicas, e outras se trata de questões psíquicas complexas e profundas:


Algumas depressões, por exemplo, estão ligadas a dificuldades de ordem física e são tratadas com vitaminas ou com exercícios. Outras depressões estão ligadas a ocorrências psicológicas, a um rompimento, uma provação, uma falência. Mas há também depressões que poderíamos chamar de iniciáticas, onde a vida nos ensina, através de uma queda, de um acidente ou de uma provação, que devemos mudar o nosso modo de viver. E nos ajuda a reencontrar o nosso verdadeiro eixo. Porque, se podemos correr dançando para um abismo, mais valeria coxearmos em uma direção que tenha um sentido.

Assim, além de examinar os pés a partir dessa relação que temos com eles, o autor também busca associações em diferentes formas de compreensão. Pela visão de Freud, diz que os pés representam o falo, e o sapato, sua contra-parte feminina. Na visão freudiana, os pés tem relação com o complexo de édipo. O livro também cita passagens bíblicas e mitos que trazem o símbolo dos pés, como o ato de lavar os pés de alguém, os ferimentos (Eva mordida pela serpente, Hércules e o calcanhar de aquiles), os contos (cinderela) e mitos, como o deus Hermes, que possui asas nos pés e é simbolo da individuação.


No livro, há toda uma observação das outras partes do corpo e como nós, muitas vezes, não deixamos que a energia de vida, pulso vital, fique interrompida nas partes. Yves fala que em nosso corpo temos os pontos de entrada e saída de energia, numa associação semelhante aos chakras, pelo yoga, que giram no sentido de emanar e absorver. Observar então, que partes físicas nossas, temos mais aproximação e quais partes temos sérias questões em aceitar e cuidar.


Muitas tradições, além de Jung com o pensamento psicossomático, observam o corpo como manifestação de questões inconscientes. Reich com a psicologia corporal falava nas couraças musculares, que somatizam as regiões em que nos fechamos em maior ou menor grau pra vida e suas relações. Observemos que envolve tanto um olhar a nível físico, quanto simbólico, psicológico e sutil, energético.


Na visão do que é saúde integral, no meu entendimento, não existe separarmos as coisas. Tudo está interligado. Envolve deixarmos nosso ego de lado, muitas vezes, para conseguirmos fazer esse mergulho pelo simbólico do nosso corpo, que guarda marcas - memórias muitas vezes desafiadoras e por isso recalcadas pelo ego - bem como navegar pelo sentido psicológico que cada parte representa, através das psicologias que trabalham com o inconsciente e corpo, assim como ele o fez na associação dos pés com nossas raízes e a observação da relação pais-filhos.


Se você gostou desse artigo, me conta aqui nos comentários pra eu saber e escrever mais sobre esse assunto!


 
 
 

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