Sobre a Morte
- Paola Alarcon
- 22 de ago. de 2023
- 2 min de leitura
Certa vez voltei pra casa após um encontro bem mais ou menos. E num anseio e expectativa de que em outro momento podia ser bom, consultei o tarot:
“uma carta sobre minha relação com fulano”
Arcano 13 - A morte

Fiquei olhando pra carta ressabiada, a morte sempre causa um certo espanto. Elaborei que talvez fossemos transformar um ao outro profundamente. Na carência cega, neguei seu sentido mais obvio:
Fim. O término, rompimento de um ciclo - a transitoriedade da vida.
Morte é rito de passagem.
E rito é dar significado na vida. É aprendizado com aquilo que passou e não volta mais. Certas coisas findam mesmo, rompem, se perdem e que bom. Porque você sabe, se a gente não aprende com aquele ciclo, acontece mais uma e outra vez. As histórias mal resolvidas que se repetem: padrões. E a partir do momento em que conseguimos identificar um padrão, é possível integrar tudo aquilo que achamos que “está fora”, “é só do outro”.
No dia seguinte acordei e fui a praia. Vi uma tartaruga sendo comida por urubus. A morte, escancarada, mais uma vez. Foi difícil observar aquela cena. A tartaruga parecia que tinha acabado de morrer, estava aparentemente inteira, mas mesmo assim, não estava ali.
A morte se faz na ausência.
É também a desilusão.
O fulano não me respondeu mais.
Deu o famoso ghosting da modernidade líquida. Não precisava jogar um tarot pra prever isso. Eu já tinha sacado mas me neguei a aceitar porque projetei outro enredo pra aquela história. Porque eu já tinha uma ideia de papel que, na carência, qualquer pessoa encaixa.
Mas que bom que a morte se fez ali entre nós, entendi mais pra frente que seria um completo equívoco. Morte é também livramento.
Libertação.
Quando um ciclo se finda, o quão alto podemos espiralar, pular uma oitava e adentrar novos territórios nunca imaginados? O término de algo não significa sempre seu fracasso, pelo contrário. Pode ter sido vivido com maestria, e por isso mesmo, a vida nos convida a atravessar, ir além.
A morte dá perspectivas. Elas são importantes para orientar.
Honrar as experiências e relações com desprendimento.
“Quanto mais você se prende ao que não é pra você, mais atrasa aquilo que é seu.”

Comentários