Sobre fluidez e sonhos

A vida tem fluido e me sinto inspirada a escrever sobre entendermos o tempo das coisas.

O aprendizado em surfar tem me ampliado a consciência corporal de me colocar no tempo do movimento do mar. Mas além do posicionamento para pegar a onda, no tempo em que acordo, preparo minha refeição, tenho meus momentos bem respeitados de trabalho, estudo, lazer e contemplação.

No tempo do movimento da vida.

Tantos paralelos da para serem feitos. Agora mesmo encerrando um encontro de supervisão em psicologia junguiana, analisávamos o desenho de uma cliente que colocou um grande veleiro em destaque dentro do que gostaria de viver no futuro. Mas me chamou a atenção que o veleiro estava na terra e não no mar.

A mesma cliente relatou sonhos em que tentava buscar seu carro e não o encontrava ou em outro momento tentava ligar o carro e a chave derretia.

Nessas da gente fantasiar com uma ideia de vida que flui do jeitinho que a gente quer, talvez seja o processo simbólico de colocar esse veleiro na água e sentir pra onde está soprando o vento. Pois há lugares que queremos desbravar mas ainda podemos não saber direito com que recursos chegar. E as vezes não somos nós que damos a ignição ou a direção.

Por isso, não forçar o tempo das coisas.

2024 me trouxe muito forte esse aprendizado, e desde então, tenho entendido que para alguns movimentos não é o carro - símbolo de independência e autonomia - que irá me levar.

Dar tempo ao tempo é sintonizar os movimentos de dentro e de fora. Convite para sentir o momento certo de agir, mudar de direção ou simplesmente esperar.

Nem sempre precisamos estar no controle absoluto.

Acolher o tempo das coisas é aceitar o fluxo da vida com mais leveza, sem pressa, sem resistência, apenas confiando que, no momento certo, sem esforço, as coisas acontecem.

E confiar é “fiar com”, tecer junto com a vida e dar espaço para ela direcionar. Assim também mudamos nossos padrões e condicionamentos, fluindo em movimento.