PAUSAS: o Eremita e a regressão da energia psíquica

Nos momentos de regressão da energia psíquica é que o Eremita nos convida para caminhar.

É um fato que nem sempre vamos conseguir dar conta das várias demandas da vida e nesses momentos certamente encontraremos muitos julgamentos: tanto nosso quanto dos outros. Momentos em que simplesmente não conseguimos agir são por vezes vistos como preguiça, procrastinação, falta de compromisso, entre outras depreciações.

Porém, muitas vezes, não há nada de errado com a pessoa, simplesmente não é hora de ação. Pensar sobre isso em um mundo onde somos avaliados por entregas e o sucesso virá apenas através do que produzimos, é brincar de ser máquina. Nós somos carne.

Onde foi que nos desconectamos dos próprios ritmos da vida? Perguntaria o Eremita para nós.

Sabemos que os ciclos existem, mas não lidamos bem com eles. Resistimos a ideia de que mesmo no ciclo há momentos de pausas, esperas.

Não é possível viver apenas dentro de uma única condição, despendendo toda a energia para o mundo exterior, escutando e fortalecendo apenas o ego. Inevitavelmente o convite da mudança de fluxo da energia psíquica é feito para dialogarmos com a imagem do Eremita que nos habita.

Ele se encontra sozinho, no meio da noite com seu lampião. Muitos o associam com um velho sábio, um Guru. Porém há muito de discípulo nele. O Eremita não está pronto, não sabe todas as respostas mas está em busca de sua iluminação, da reavaliação de tudo que viveu, responsável pela sua própria trajetória.

Por ter vivido tanto, consegue ir mais profundo em si.

Não paralisa, mas sabe que em alguns momentos é preciso ir mais devagar. Do contrário, pode tropeçar, cair, errar o caminho.

Ele sabe. E se não sabe, tem este tempo para aprender.

A qualidade da experiência do Eremita em nós vai depender de como encaramos este momento. Será angustiante se olharmos como impedimento, ou resistirmos a tarefa de mergulhar pra dentro. Porém, será precioso se entendermos a grandiosidade da oportunidade desse encontro.

Texto adaptado do artigo “O caminho solitário para o mundo interior: o eremita no equilíbrio entre cronos e kairós.” Disponível no site do Instituto Jungiano de Ensino e Pesquisa.